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#3 A Razão aliada da Fé

“Os céus proclamam a sua glória, e o firmamento anuncia as obras de Suas mãos.” (Salmos 19.1).

Ao refletir sobre a fé, sempre nos deparamos com o que chamamos de “O problema de Deus”. O questionamento central em torno disso é: Deus realmente existe? É possível provar a existência de Deus?

Bem, a resposta à segunda pergunta é que não, não é possível provar em definitivo a existência de Deus. Mas, é possível propor argumentos muito fortes, que apontam diretamente para a existência de um Criador Soberano. Trataremos então aqui de explanar um argumento de construção lógica infalível que se demonstra muito útil a defesa da fé em Deus.

Por séculos, a humanidade vem lutando numa dualidade de pensamentos, a ideia de um passado infinito que contrastava com a questão do universo ter ou não um começo absoluto. Alguns dos antigos filósofos gregos, dentre eles Aristóteles, acreditavam que a matéria era necessária, não criada e, portanto, eterna. Deus podia até ser o responsável por colocar ordem no Universo, mas ele não poderia ser seu criador. Essa visão encontra um contraste gigantesco quando se depara com a visão judaica, que é ainda mais antiga, e propõe que o universo foi criado, e apontam inclusive seu criador. Esse debate segue-se por muito tempo, até os dias de hoje na verdade, e guiou-se apenas para uma espécie de final inconclusivo no pensamento do filosofo do século XVII, Immanuel Kant que chega a dizer que os dois lados tem argumentos racionalmente convincentes, levando assim a falência da própria razão!

Surge então, um poderoso argumento em favor de um universo criado. Al-Ghazali é o responsável por ele. Ele estruturava seu pensamento assim:

  1. Tudo que começa a existir tem uma causa.

  2. O universo começou a existir.

  3. Logo, o universo tem uma causa.

(Causa: no sentido de Causar, ter sido causado ou criado).

Esse é um argumento logicamente inescapável. Se as duas premissas forem verdadeiras, a conclusão também será. Assim, quem quiser negar a conclusão, terá que negar as duas premissas.

Primeira premissa:

Algo não pode vir do nada. Afirmar que algo pode vir do nada, é pior que mágica. Quando um ilusionista tira um coelho da cartola, você pelo menos tem o ilusionista e a cartola. Negar a primeira premissa é dizer que havia o nada, e em algum momento do passado, do nada o universo surgiu sem haver qualquer motivo ou razão para tal. No entanto, ninguém acredita sinceramente que alguma coisa, como cavalos, ou uma casa, pode vir do nada. sem causa ou motivo algum. Isso não é ciência de verdade! O “nada” aqui, não quer dizer a existência apenas do espaço vazio. O nada é a ausência do próprio espaço! Dizer que alguma coisa pode vir do nada, isso sem nenhuma experimentação dessa possibilidade no universo, é um salto de fé muito maior do que crer na existência de Deus.

Ateístas afirmam que esse argumento se aplica apenas para tudo o que há no universo, menos para o universo em si. Isso é apenas uma demonstração do que chamamos na filosofia de falácia do táxi. Você não pode aceitar uma argumentação para fazer valer o ponto que você defende e depois mandar embora com um aceno quando ela se torna inconveniente para sua ideia. A primeira premissa é um principio causal. É uma determinação metafísica que se aplica a todos os entes e a toda realidade.

Tanto o senso comum quanto às evidências cientificas confirmam a primeira premissa como verdadeira. Se o preço a pagar pela refutação deste argumento é negar a primeira premissa, então o ateísmo está filosoficamente falido.

Segunda premissa:

Está de o universo ter começado a existir é um tanto mais polemica. Mas, para não perdermos muito espaço de texto, vamos direto aos argumentos científicos que comprovam que essa premissa é verdadeira.

A expansão do universo.

Já é considerada uma verdade científica, a ideia de que o espaço está se expandindo. Já na década de 20, o matemático russo Alexander Friedman e independentemente o astrônomo belga Georges Lemaître, decidiram tomar as equações de Albert Einstein sobre a teoria da relatividade e ambos chegaram a modelos de expansão do universo. No fim dessa mesma década, o astrônomo americano Edwin Hubble, depois de incansáveis observações telescópicas, chegou a descoberta impressionante que confirma os modelos dos outros cientistas acima. Através da observação dos desvios de luz das galáxias, Hubble descobre que as demais galáxias estão se afastando de nós a uma velocidade incrível!

Segue-se então o pensamento lógico: Se o universo está constantemente se expandindo, ele não pode ter um passado infinito. Pense no processo de crescimento ao contrário. Se você pensar no tempo andando para trás, vai notar que o universo em um dado momento, não haverá um universo. Ele diminuirá tanto ao ponto de não existir. Nada que está em constante crescimento pode ser eterno!

A termodinâmica do universo.

A segunda lei da termodinâmica nos diz que: "A quantidade de entropia de qualquer sistema isolado termodinamicamente tende a incrementar-se com o tempo, até alcançar um valor máximo". Segundo essa lei, a menos que um sistema esteja recebendo energia, ele se tornará cada vez mais caótico e desordenado. Dando-se tempo suficiente, toda a energia que tem no universo se espalhará igualmente. O universo não passará de corpos flutuantes desordenadamente. Chegando nesse estado, não é possível nenhuma mudança no universo. É um estado na qual a temperatura e pressão são as mesmas em todo lugar, conhecido como morte térmica do universo.

Então a questão nossa é, se num devido tempo, o universo estagnará inevitavelmente em uma morte térmica, então porque o universo ainda não se encontra nesse estado, já que ele existe desde sempre? Ele teve, literalmente, todo o tempo do mundo para chegar a esse estado, afinal seu passado é infinito.

Podemos então afirmar que as duas premissas são necessariamente verdadeiras. Sendo assim, podemos afirmar que sua conclusão, que é sequencia logica perfeita das premissas, como verdadeira.

Além disso, podemos a partir deste argumento, traçar alguns pontos da ideia de Deus como Causa do Universo. Pensando que nada material poderia ser causa, dado que a matéria é também parte do Universo e não existe para além dele, A Causa do universo precisa necessariamente ser um ser imaterial. Do mesmo modo, precisa ser um ser transcendente para além do universo. Essa causa tem de ser ela mesma não causada, pois já vimos que uma cadeia de causas infinitas é impossível. Ela é, portanto, a causa primeira não causada. Deve transcender o tempo e o espaço, aja visto que foi ela a causa de ambos. Sendo assim, deve ser realmente imaterial. E deve ser inimaginavelmente poderosa, uma vez que é o principio de toda matéria e energia. Por fim, deve ser um ser pessoal, levando em conta todas as configurações hiper-precisas e grandiosamente improváveis, que são necessárias para a existência da vida nesse universo, nenhum acaso poderia o ter criado. As possibilidades são infinitamente mínimas! Somente uma Mente poderia se enquadrar nesta descrição de primeira causa.

É notável que o Deus da bíblia esteja perfeitamente enquadrado nesta descrição de causa primeira de Todas as Coisas. E quantos outros deuses podem ser listados que compreenda todas essas características?

Fontes:

Al – Ghazali: A Incoerência dos Filósofos.

William Lane Craig: Em Guarda, Defendendo a Fé Cristã com Razão e Precisão. E Apologética Cristã Contemporânea.

Alister Macgreth: Apologetica Pura e Simples.

Prof. Olavo de Carvalho: Sobre a Existência de Deus

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